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Seminário Permanente13.02.2023
Ciência e Cultura – Quebrar Fronteiras
14h30 | Biblioteca Nacional de Portugal «Imaginar e inventar: algumas questões iniciais sobre a sua unidade genética», por Nuno Miguel Proença

 

O que é a invenção? Que relação tem com a criação, com a inovação e com a descoberta? O que a liga à imaginação?

Tanto nas ciências como nas técnicas, tanto nas artes como nas letras, a invenção parece indissociável da possibilidade de evidenciar novas conexões de imagens, de conhecimentos ou de procedimentos através de uma combinação original de meios disponíveis com vista a um fim determinado. Há invenção quando essas combinações anteriormente desconhecidas são conduzidas à identidade de um projecto definido e desejado. Nesse sentido, se é fácil admitirmos que a invenção supõe uma descoberta de um dado novamente isolado e interpretado num conjunto de modelos ou de procedimentos disponíveis, é também simples admitir que (quer ele seja científico, técnico ou cultural - aceitando que cada um deles exprime uma mesma dinâmica originária) também uma descoberta supõe a invenção de formas que permitem aperceber um dado para o qual não se reparou anteriormente ou cuja potencialidade não tinha em parte sido nem vislumbrada nem acolhida. Ora, a possibilidade de evidenciar o que ainda não se conhecia ou de o realizar por meio de um agenciamento original daquilo que já era admitido, (quer se trate de imagens, de modelos, de procedimentos ) parece requerer a antecipação de potencialidades inerentes a dados já aceites ou a práticas tidas como habituais, o que é característico de uma imaginação criativa ou realizadora.

De modo a tornar manifesta a relação existente entre a imaginação, a criação e a invenção, nesta sessão do «Seminário Permanente Ciência e Cultura: Quebrar Fronteiras», vamos interessar-nos pela obra de Gilbert Simondon, em especial por alguns capítulos das suas aulas de 1965-1966 reunidas no volume com o título Imagination et invention, PUF, 2014. A teoria do filósofo francês mostra-nos a imaginação e a imagem como funções vitais fundamentais e vias essenciais do psiquismo dos seres vivos (humanos e mais que humanos): tanto a percepção como a consciência são informadas pela imagem, cujas primeiras formas são a vida, a vitalidade, o movimento organizado e constante. Esta actividade locai, de origem endógena, pode ser entendida como condição de possibilidade no sujeito da própria doação do objecto na percepção e como aquilo por meio do qual a subjectividade ultrapassa e transforma os dados perceptivos. Mostra-nos, por isso, a unidade orgânica entre a imaginação e a invenção, à qual prestaremos uma especial atenção.

Nuno Miguel Proença é investigador do Grupo Pensamento Moderno e Contemporâneo do CHAM, onde trabalha sobre a relação entre afectividade e representações. Doutorado em Filosofia na EHESS, em Paris, com uma tese sobre Freud orientada por Fernando Gil e publicada sob o título Qu'est-ce que l'objectivation en psychanalyse? (L'Harmattan, 2008). Com Adelino Cardoso, coordenou a edição do dossier Evidência, afecto e inconsciente no número 35 da Revista Cultura (2016), assim como o livro Dor, Sofrimento e Saúde Mental na Arquipatologia de Filipe Montalto (2018). Mais recentemente publicou Vida, Afectividade e Sentido (Húmus, 2020) e o livro de ficções Segunda Visão da Noite (Húmus, 12catorze, 2022).

 

 

Coordenação

Adelino Cardoso (CHAM)

Nuno Miguel Proença (CHAM)

 

 

Organização

CHAM / NOVA FCSH