De acordo com uma das mais célebres obras de Leibniz, a Teodiceia, «[e]xistem dois famosos labirintos, onde a nossa razão muitas vezes se perde. Um diz respeito à grande questão do livre e do necessário (...) o outro consiste na discussão da continuidade e dos indivisíveis, que parecem ser os seus elementos, e onde deve entrar a consideração do infinito». Embora a Teodiceia apenas se debruce sobre o labirinto da liberdade, os dois labirintos foram alvo de uma ampla problematização que acompanhou o autor hanoveriano ao longo de toda a sua vida.
Este seminário analisa o segundo labirinto. De um modo sucinto, o problema do contínuo refere-se à composição de qualquer entidade contínua, tal como uma figura geométrica, um corpo ou o espaço. A sua formulação pode ser enunciada do seguinte modo: na medida em que se considera uma determinada coisa como algo contínuo, de que modo se poderá conceber a natureza da sua composição? i) Será que algo contínuo é um todo indivisível ou algo suscetível de divisão? ii) Se for algo divisível, será que o mesmo é composto por elementos indivisíveis ou por partes igualmente divisíveis? iii) Se for algo infinitamente divisível, será possível concebê-lo como algo contínuo? Com efeito, se for algo infinitamente divisível, será sequer possível a sua conceção? Constituindo uma problemática que atravessa diferentes domínios do conhecimento - desde a matemática, à física, ou ao que hoje se designa por biologia -, uma das originalidades de Leibniz assenta na sua concepção metafísica deste problema, assim como nas diferentes soluções que o autor sugere, tendo por base o princípio da continuidade.
Propõe-se assim uma entrada no labirinto do contínuo, orientada pelos escritos de G. W. Leibniz. Será o autor capaz de nos guiar até uma saída?
Sofia Araújo é investigadora integrada do CHAM. Actualmente a investigadora encontra-se a desenvolver o seu projecto de doutoramento em História da Filosofia, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tendo como objecto de estudo o pensamento filosófico de G. W. Leibniz, designadamente, a dimensão estética da sua doutrina da expressão.
Coordenação
Adelino Cardoso (CHAM)
Nuno Miguel Proença (CHAM)
Organização
CHAM / NOVA FCSH