O sonho é uma dimensão fundamental da vida e da existência humana: acontece-nos sonhar e, uma vez despertos, o sonho prende a nossa atenção pelo que manifesta e pelos enigmas que sugere.
Freud reconheceu o sonho como “a via régia” de acesso ao inconsciente: a interpretação dos sonhos é um instrumento básico do trabalho psicanalítico. Com efeito, o sonho fala do sonhador, dos seus desejos e dos seus medos, dos conflitos que impulsionam ou bloqueiam os seus afectos e a sua existência. Mas os sonhos falam também da comunidade e da cultura envolventes.
O sonho é um fenómeno cultural não só ao nível da significação que lhes é atribuída, mas ao nível do próprio sonhar. Para dar um exemplo marcante, haverá comunidades cujos membros sonham frequentemente o mesmo sonho. Não é assim na cultura europeia, em que o sonho, pelo menos aparentemente, se liga à psique individual.
No sonho a alma liberta-se das amarras que o “princípio de realidade” impõe à nossa visão da paisagem do mundo e revela um potencial criativo incontrolável. Ao sonho foi reconhecida uma função profética, capaz de antecipar o futuro, e um sinal de uma destinação, de uma decisão urgente para encontrar o seu caminho. O sonho de Descartes na noite de 10 de novembro de 1619, que provoca uma verdadeira conversão à filosofia no instaurador do racionalismo moderno, evidencia exuberantemente a força do excesso e do irracional na pulsão da razão.
Organização
Adelino Cardoso (CHAM)
Bruno Barreiros (CHAM)
José Silva (IF/UP)
Nuno Miguel Proença (CHAM)
Paulo Jesus (CFUL)