A lenda de Demócrito, formada a partir das Pseudoepigrapha, isto é, cartas falsamente atribuídas a Hipócrates e seus correspondentes, é uma narrativa exemplar em torno da loucura e do modo como ela afeta as relações entre o indivíduo e a sua comunidade.
O ponto de partida é uma carta do Senado e do Povo de Abdera, cidade natal de Demócrito, dirigida a Hipócrates, o fundador da medicina racional, em que é solicitada a ajuda deste grande médico para curar a loucura de Demócrito, patente na estranheza do seu modo de vida, em especial no riso permanente, a propósito de tudo e de nada, sem distinguir bem e mal, o útil e o funesto. Hipócrates desloca-se de Cós a Abdera para observar e diagnosticar o mal do insigne filósofo. Após uma longa "consulta", Hipócrates faz o diagnóstico: Demócrito está de boa saúde e com ânimo forte, a sua cidade é que está doente.
Dentre as questões suscitadas pela lenda democritiana, refiram-se: como distinguir o louco da pessoa saudável? A via da sabedoria implica afastamento da multidão e da doxa?
Existe uma boa edição bilingue (greco-inglês) das Pseudoepigrapha, de W. D. Smith (ed.) Hipocrates, Pseudepigraphic Writings, Leiden: Brill, 1990.
Coordenação
Adelino Cardoso (CHAM)
Nuno Miguel Proença (CHAM)
Organização
CHAM / NOVA FCSH