Jacques Lacan e Jacques Derrida defendem no Feminino algo de arredio à castração, uma abertura, uma incompletude, que relacionam à estrutura da linguagem e ao saber inconsciente. Trata-se de uma abertura do Feminino, num processo de interpretação desconstrutora, ou seja, afirmativa, superando o campo de oposições duais característico do saber metafísico, racional ou científico. Baseada nessa leitura, procuro problematizar filosoficamente, a partir da Psicanálise, os conceitos de fetiche, falo e castração.
Situo a origem do termo fetiche na palavra portuguesa feitiço, no discurso dos mercadores portugueses na Costa ocidental de Africa, entre os séc XV e XVI e proponho, como a psicanalista Maria Belo, a utilização do termo em português, justamente porque a língua em que se fala é importante para trabalhar as questões do inconsciente.
A partir do texto Fetichismo (1927) de Freud, usando feitiço para traduzir fetiche, aprofundo a ideia da interpretação de sintomas, de sonhos, enfim, do inconsciente e do ilógico, como leitura de texto. Face ao reconhecimento de que esses feitiços essencializante(1) (por exemplo, a feminilidade, o valor da verdade, a essência da mulher) funcionam como lugares de ancoragem e racionalidade ocidental, que servem para superar uma certa angústia hermenêutica, como sair da fixação desses feitiços, como inventar outras inscrições e deslocamentos sem desvalorizar ou banalizar o processo de interpretação?
(1) A expressão fetiches essencializantes é de Jaques Derrida, em Esporas, os estilos de Nietzsche (2014, p.37).
Coordenação
Adelino Cardoso (CHAM)
Nuno Miguel Proença (CHAM)
Organização
CHAM / NOVA FCSH
Seminário Permanente “Ciência e Cultura – Quebrar Fronteiras”