Este livro aborda um instante. Num momento, na manhã do dia 1 de Novembro de 1755, uma cidade, Lisboa, desapareceu, na forma como os seus habitantes a conheciam. Como sempre acontece numa imagem instantânea, o espaço, as formas, os objectos retratados remetem-nos para um tempo muito mais longo, para o processo histórico que os produziu e configurou. Neste caso, vislumbramos aspectos de um espaço urbano que se formou, se foi alterando, existiu, entre o século XVI e aquele dia de meados do século XVIII.
Por outro lado, este livro pretende perceber e explicar fragmentos. Fragmentos de urbanismo, fragmentos arquitectónicos, fragmentos de objectos cerâmicos. Tratando-se de estudos arqueológicos pretende-se discutir um discurso histórico pré-existente, por vezes confirmando-o, por vezes contrariando-o a partir de indícios materiais cujas contextualização e interpretação propiciam a composição de conhecimento. No século XVI, a Baixa de Lisboa sofreu uma profunda alteração que visava transformar esta zona no novo centro urbano. A cidade, de traçado milenar, enriquece-se e enobrece-se, sem perder o pré-existente carácter popular e muito ligado a diversas produções industriais-artesanais e ao comércio.
Esta cidade atravessa três séculos. A (re)construção urbana promovida após 1755 camuflou os seus vestígios e alterou completamente a sua face visível e a sua topografia. Por isso, na Baixa Pombalina da Lisboa de hoje oculta-se esse objecto simultaneamente mítico e real, uma cidade perdida, apenas acessível através da História e da Arqueologia.
Uma casa pré-pombalina na Baixa lisboeta., Núcleo arqueológico da Rua dos Correeiros, Jacinta Bugalhão (coord.), Lisboa: CHAM, 2015, 91p., (Colecção ArqueoArte, 2).
ISBN
978988492302