A construção de um novo saber botânico no mundo de Quinhentos.
O século XVI assiste a uma explosão no conhecimento do mundo botânico. No regresso das viagens de exploração oceânicas, portugueses e espanhóis trazem novas plantas que, por um lado, ampliam o conhecimento acerca da biodiversidade à escala planetária e, por outro, motivam os europeus a conhecer melhor a sua própria flora. A investigadora do CHAM Teresa Nobre de Carvalho fala sobre este processo e sobre as diversas metodologias de análise adoptadas para a descrição de plantas provenientes de diferentes regiões do globo. Se, relativamente às especiarias asiáticas, é feito um trabalho de validação, ampliação ou correcção do saber em circulação desde a Antiguidade, no que se refere às plantas oriundas do continente americano, a novidade é absoluta, e exige a criação de novas descrições textuais e gráficas. Comprovando o seu interesse no seu uso quotidiano, a Europa adopta algumas plantas americanas, como feijões, milho maís, batata-doce e sisal. Teresa Nobre de Carvalho aborda em particular a circulação do ananás, fruto que surpreende pela sua espectacularidade e sabor invulgar e que, cruzando os oceanos, se difunde, a partir do Brasil e do Novo Mundo, para outros espaços tropicais e sub-tropicais, como a costa africana, Goa e Baçaim, China ou Filipinas.
Teresa Nobre de Carvalho é Investigadora Integrada do CHAM-Centro de Humanidades, estando a desenvolver uma pesquisa de pós-doutoramento na qual analisa a aquisição, apropriação e circulação do saber relativo ao ananás nos séculos XVI a XVIII (com bolsa da FCT). Na sua investigação examina os desafios científicos, ambientais e culturais provocados pela aclimatação transcontinental deste fruto. Teresa Carvalho é licenciada em Engenharia Agronómica, mestre em Protecção Integrada e doutorada em História e Filosofia das Ciências com uma tese sobre o impacto de Colóquios dos Simples e Drogas e Cousas Medicinais da Índia, de Garcia de Orta, na ciência da Idade Moderna. Colaborou na organização e curadoria, de diferentes exposições, como «360° - Ciência Descoberta» (Museu Calouste Gulbenkian, 2013); «As flores do Imperador. Do Bolbo ao tapete» (Museu Calouste Gulbenkian, 2018); e «O mundo visto dos Oceanos: a primeira viagem à volta do mundo traçada pelas colecções da Sociedade de Geografia de Lisboa» (Sociedade de Geografia de Lisboa, 2019).
A entrevista é conduzida por Helena Castro.
Coordenação
Isabel Araújo Branco (CHAM)
Organização
CHAM / NOVA FCSH