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Workshop26.04.2023
História e Metodologia
16h00 | CAN - Colégio Almada Negreiros, Sala SAMonumentos coloniais no espaço público: materialidades, memórias impostas e narrativas históricas contestadas, por Victor Barros (Casa de Velázquez e IHC — NOVA FCSH / IN2PAST)

 

Esta comunicação propõe analisar a forma como os monumentos comemorativos coloniais inscrevem, no tempo e no espaço, a simbologia e a prática do colonialismo. Estudar monumentos coloniais como fonte de análise histórica implica, em termos metodológicos, adotar uma perspetiva historiográfica construtivista que, por um lado, olha para esses artefactos como materialidades produzidas em contextos espácio-temporais específicos por agentes inseridos em redes de relações desiguais de poder e impelidos por motivações sociopolíticas e culturais de diversa ordem. Por outro, os monumentos devem ser também pesquisados a partir do repertório de mensagens, símbolos e discursos (escritos, imagéticos, alegóricos e outros) que difundem para o público, induzindo visões essencialistas de temporalidade por vezes anacrónicas e até contraditórias entre si. Uma outra advertência metodológica: os monumentos não são uma incarnação direta dos factos a que fazem alusão, nem são história propriamente dita dos acontecimentos que evocam. Pelo contrário. São materializações estético-políticas (mas não só) de artifícios e expedientes que o poder gera e gere. Neste sentido, devem ser investigados como instrumentos que nos ensinam muito mais sobre as épocas, os regimes políticos e as pessoas que os produziram e os promoveram do que propriamente sobre o passado, o tempo e a história que pretendem narrar (só com aparência e simulacro). Os monumentos comemorativos coloniais de Cabo Verde serão examinados como instrumentos integrantes do repertório imperial e, ao mesmo tempo, como recursos materiais e tecnologias político-culturais para revigorar as redes de mensagens do poder que os concebeu. Sem perder de vista as recentes contestações transnacionais em torno dos legados memoriais da escravatura e do colonialismo ainda presentes no espaço público, a comunicação colocará também em destaque alguns aspetos relacionados com os usos públicos do passado e as demandas pela reescrita da história.

 

Víctor Barros é Historiador, Doutorado em Estudos Contemporâneos pela Universidade de Coimbra com uma tese sobre comemorações, usos públicos da história e memória do império nas colónias durante o Estado Novo português (1933-1974), tese essa distinguida em outubro de 2020 no Prémio Internacional de Investigação Histórica Agostinho Neto. É também autor do livro Campos de Concentração em Cabo Verde: As Ilhas como Espaços de Deportação e Prisão no Estado Novo, distinguido com uma Menção Honrosa no Prémio de História Contemporânea Vitor de Sá, em 2008. Os seus interesses de investigação centram-se nas questões da história colonial e dos impérios coloniais, dos anticolonialismos, das políticas de memória, dos usos públicos da memória colonial, da escrita da história, entre outros. Trabalhou igualmente como membro do projeto de investigação ‘Amílcar Cabral – Da História Política às Políticas de Memória’. Tem artigos publicados em revistas como The International History Review; Revista Portuguesa de História; Revista Angolana de Sociologia; Revista de História da Ideias; Práticas da História: Journal on Theory, Historiography and Uses of the Past; European Contemporary History. É atualmente investigador da École des Hautes Études Hispaniques et Ibériques da Casa de Velázquez em Madrid e membro do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.

 

Evento aberto para quem quiser participar, com inscricão prévia no Google doc.

 

Comissão Organizadora

Yvette Santos (IHC — NOVA FCSH / IN2PAST)
 Mariana Meneses Muñoz (CHAM — NOVA FCSH)  

 

 

Organização

IHC / NOVA FCSH

CHAM / NOVA FCSH