Código . 2023.07812.CEECIND
Início . 2024
Duração . 72 meses
Investigador Principal . Daniela Spina
Instituições
Entidade Financiadora
Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Unidade de Investigação
CHAM — Centro de Humanidades
Instituição Coordenadora
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas / Universidade Nova de Lisboa
Através de um estudo que cruza teoria da literatura e história, este projeto de investigação tem como objetivo comparar como a juventude colonial (colonial youth) se autorrepresentou na imprensa periódica e como foi representada posteriormente em narrativas literárias publicadas depois do fim dos colonialismos na África Oriental (Tanzânia e Moçambique) e na Ásia do Sul (Índia e Sri Lanka). Considerando como objetos de estudo a ficção literária e a imprensa das ex-colónias dos impérios europeus no espaço do Oceano Índico, o projeto quer explorar a intervenção de jovens intelectuais no espaço público colonial e o seu envolvimento no debate sobre questões relacionadas com a educação e a formação cultural individual. Ao mesmo tempo, os periódicos serão estudados em contraponto com exemplos de ficção pós-colonial que têm por protagonistas, ou narradores, sujeitos de jovem idade, estando o foco sobretudo no romance de formação. O projeto quer refletir como jovens sujeitos, crescidos e educados em contextos coloniais, imaginaram os seus futuros, e sobre as consequentes interpretações pós-coloniais dessas visões, incluindo representações textuais de esperança, deceção e falência. O foco na África Oriental e na Ásia do Sul justifica-se pelo facto de a experiência colonial europeia ter acabado só a partir da quarta década do século XX, e pelo facto de as primeiras décadas da época pós-colonial terem sido profundamente influenciadas pelas mesmas correntes políticas e culturais internacionais. O lapso temporal 1930-1970 refere-se ao período histórico em que os periódicos foram publicados, enquanto no caso das obras ficcionais, não se refere ao ano de publicação, mas sim à temporalidade em que os enredos se desenvolvem. Esta diferença dá-se por ser um dos objetivos do projeto reconstruir um quadro complexo da juventude colonial, criando uma ligação entre a ação intelectual num determinado período e posteriores interpretações dos fenómenos culturais em causa. Tendo como marco teórico o da World Literature, o projeto contribuirá para os recentes debates sobre a circulação global de específicas formas textuais e para preencher a lacuna de estudos teóricos sobre o romance de formação pós- colonial. Além disso, privilegia-se uma abordagem interdisciplinar, usando ferramentas metodológicas da narratologia para ler a ficção, e a análise do discurso para a leitura dos periódicos, enquanto se pretende tecer uma reflexão maior sobre os géneros literários e textuais e as fronteiras em que estes estão demarcados.
Objectivos
Os meus principais objetivos são:
1) Retratar um quadro complexo e abrangente da juventude colonial. A juventude colonial (colonial youth) deve ser entendida como um conjunto de sujeitos, entre a adolescência e a primeira fase da idade adulta, que nasceram e viveram em territórios de administração colonial e cuja educação e background cultural foram influenciados por ideologias e hábitos vindos de fora: os impostos pela autoridade colonial, através dos planos institucionais de educação e determinadas ações culturais, e outras ideologias que se enraizaram na sociedade na lenta transição de colónia para estado-nação, como por exemplo, as correntes políticas de cunho soviético. O foco na ficção vai me permitir trabalhar no nível das representações posteriores, enquanto estudar textos publicados na imprensa periódica ampliará a nossa compreensão do engajamento da juventude no debate público, em perspetiva historiográfica.
2) Abordando romances, contos e textos jornalísticos com as mesmas ferramentas metodológicas da teoria literária, o meu segundo objetivo é superar as fronteiras disciplinares e abrir para uma reflexão para estudar o jornalismo como um género narrativo, tendo em consideração que, em muitos contextos coloniais, o jornalismo abriu o caminho para a ficção narrativa e, em certos casos, a substituiu.
3) Juntando textos literários oriundos de diferentes sistemas literários em línguas diferentes, quero desafiar os estudos de área, uma abordagem predominante nas humanidades portuguesas. Quero contribuir para um dos debates sedeados no contexto da World Literature, nomeadamente, sobre a necessidade de privilegiar a forma textual como fio unificador de diversas obras literárias, através do estudo dos discursos dos autores, as ideias em comum e os mundos que estas revelam. Por esta motivação, adotarei, no meu projeto, conceitos emprestados da história das ideias, enquanto prestarei atenção à circulação de específicas formas textuais através dos impérios britânico e português.