Esta apresentação tem como objetivo abordar os processos de construção de identidade coletiva durante a Pré-história Recente, na região de Trás-os-Montes e Alto Douro, a partir das representações antropomórficas e zoomórficas. Em contextos onde o sagrado e o profano se confundiriam e o ritual faria parte das práticas quotidianas, pretende-se pensar, a partir das formas como as comunidades pré-históricas representavam o mundo (através sobretudo de figurinhas e arte rupestre) processos de identificação coletiva, sublinhado as questões de género.
A representação humana durante a Pré-história Recente reveste-se de diversas formas e encontra-se em diversos suportes que importa analisar. Pode adquirir um caracter realista ou esquemático, conter indicadores referentes ao sexo biológico, sendo, no entanto, na sua grande maioria, ambígua. A representação da figuração humana está patente em figurinhas, ídolos ou estelas (esculpidos, gravados ou pintados em cerâmica, pedra, osso ou materiais excecionais como o marfim), assim como na arte rupestre (gravura e pintura). A compreensão destes “materiais” arqueológicos está dependente do contexto de identificação. Neste sentido, as representações figurativas serão analisadas em articulação com o(a)s sítio/estruturas arqueológico(a)s e as dinâmicas territoriais.
As representações antropomórficas e zoomórficas não obedecem a padrões de representação similares em diferentes áreas geográficas. Neste sentido, as autoras pretendem compreender as estratégias de construção de identidades coletivas a partir da região de Trás-os-Montes e Alto Douro, tendo em consideração as particularidades desta região no contexto português. A investigação em Pré-história Recente nesta região tem vindo a sublinhar a ambiguidade e fragmentação dos próprios espaços construídos assim como de um conjunto de outras “coisas” criadas e usadas por comunidades de agricultores, pastores e caçadores. Neste contexto, será equacionada a (con)fusão entre ser humano e seres não humanos nas representações figurativas e o carácter ambíguo e fragmentado das representações em relação à arquitetura e à “cultura material”. A compreensão dos processos de construção de identidades coletivas, nomeadamente de género, terá de ser equacionada contextualmente e relacionalmente - entre coisas, arquiteturas, paisagens, e as possíveis representações de cosmologias particulares.
Ana Vale é doutorada em Arqueologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2012). É investigadora integrada do Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória» - CITCEM, e atualmente exerce funções de gestão de ciência na unidade Research Management & Science Communication Hub – REMA, na FLUP. Desde 2004, integra a coordenação dos projetos de investigação sobre o recinto murado de Castanheiro do Vento (V. N. de Foz Côa), datado do III/II milénios AC. O seu trabalho de investigação tem incidido sobretudo no estudo das arquiteturas pré-históricas, tipologia cerâmica e processos identitários, teoria da arqueologia e arqueologia feminista e de género.
Ana Amor Santos é mestre em Arqueologia e Território com especialização em Arqueologia Proto-histórica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É arqueóloga e investigadora independente, bem como tradutora. A sua investigação tem-se centrado no estudo das representações do corpo humano na Pré e Proto-história, na arqueologia do corpo, feminista e de género.
Organizing Committee
Guilherme Borges Pires (CHAM)
Isabel Gomes de Almeida (CHAM)
Isabel Araújo Branco (CHAM)
Organization
CHAM / NOVA FCSH