Início . 2013
Duração . 45 meses
Investigadora Principal . Cristina Brito (CHAM)
Instituições
Unidade de Investigação
CHAM — Centro de Humanidades
Apoios
Escola de Mar / Faculdade de Ciências/Universidade de Lisboa
Desde tempos imemoriais que as pessoas se sentem fascinadas pelas grandes baleias. Estes mamíferos marinhos desde sempre prenderam a nossa atenção, surgindo em lendas e representações visuais como aterradores monstros marinhos, e inspirando poetas, escritores e artistas com a sua estranha aparência e o seu enorme tamanho. Na verdade, ao longo dos séculos toda uma mitologia e uma cultura relacionadas com baleias foi crescendo, inspiradas pelo mistério que envolve os hábitos destas criaturas marinhas. Apesar disso, a história comum partilhada por humanos e baleias é contraditória já que estes animais foram, desde sempre, alvo de uma captura para a obtenção de produtos valiosos como o seu óleo, carne, ossos e barbas. Durante séculos, a caça das baleias era encarada como uma aventura perigosa, mas romântica, atraindo marinheiros e baleeiros para longas viagens cheias de perigos mas também de perspetivas de lucro e sucesso. De facto, o conhecimento científico adquirido sobre as baleias e as preocupações conservacionistas são muito recentes. Foi só a partir do século XVIII que as baleias passaram a ser categorizadas como mamíferos, e não como peixes, e o aparecimento da cetologia enquanto disciplina e como um ramo da zoologia deu-se apenas na década de 1960.
Em Portugal, a história entre os cetáceos (baleias e golfinhos) e os humanos está documentada, ao longo do tempo em relatos, imagens, descrições, contos, mas também em documentos legais, leis e impostos. No continente, as primeiras referências a cetáceos são encontradas para o século XIII, através de registos de arrojamentos, da utilização de restos de baleias e de atividades de baleação, em várias vilas ao longo da costa. Portugal, em conjunto com o País Basco, reconhecido berço da baleação ocidental, parece ter sido uma importante região baleeira, onde se desenvolveram técnicas de exploração e uma economia e cultura relacionadas com as baleias. Para além de, a baleação organizada, ter tido o seu início na Península Ibérica, parece ter migrado para o Atlântico no decorrer das viagens oceânicas de descobrimento e exploração, desde os séculos XV e XVI.
Objectivos
O presente projeto, seguindo a rota histórica e científica das baleias pelo Atlântico: o caso de Portugal, pretende usar Portugal como um caso de estudo para a identificação e análise de fontes históricas e cientificas de ocorrência de baleias e de baleação no Atlântico. Permitirá compreender alguns aspetos do passado humano, em particular a relação entre pessoas e baleias num período de atitudes altamente predatórias e de uma clara exploração dos recursos naturais e do ambiente marinho. Este estudo irá considerar uma larga escala temporal, desde os tempos medievais até quase à época moderna (até fins do século XIX, altura do começo da baleação industrial em Portugal), e será suportado por diferentes tipos de fontes históricas (escritas e visuais, heráldica e cartografia) e ainda em material biológico e objetos tridimensionais antigos. Serão abordados aspetos de história ambiental marinha relacionados com elementos de história da ciência, permitindo enquadrar a história marítima portuguesa numa historiografia para o Atlântico. A história do Atlântico é, na verdade, uma construção analítica e uma categoria explícita de análise histórica que permite organizar o estudo desta base oceânica como local de inúmeras e diversas formas de trocas. Aqui, a baleação, a troca dos produtos daí resultantes e a transferência de conhecimento científico e natural, podem funcionar tanto na investigação presente como em futuros casos, como unidade coerente de análise do Atlântico.
Cristina Brito . Coordenadora
António Teixeira (ICNF)
Inês Carvalho (APCM)
Nina Vieira (CHAM)
Vera Jordão (Escola de Mar / FCUL)