Tendo sido conceptualizado de diferentes formas ao longo do tempo, Género pode ser genericamente definido como o conjunto das associações, atitudes e práticas continuamente mutáveis atribuídas por grupos sociais humanos a indivíduos baseadas nos seus corpos sexualizados. Neste sentido, Género pressupõe uma praxis que reivindica e sustenta uma divisão dos corpos através da remissão a normas previamente estabelecidas, num dado contexto sócio-cultural. Estas normas expressam-se por intermédio de instituições, práticas e discursos, com diversos de pontos de origem e difusão (Butler 1990:ix). É assim impossível pensar o género sem considerar os discursos produzidos por diferentes poderes. Na realidade, os próprios princípios em que assenta a distinção entre sexo e género são socialmente construídos e, portanto, sujeitos a mutação. Simultaneamente, a conceptualização de género como construto social, ligado a conceitos como discursividade e/ou performance tem implicações substanciais em diversos aspectos, influenciando a forma como se estudam sociedades contemporâneas e/ou passadas. As instituições, representações e práticas religiosas podem ser percebidas, diacronica e sincronicamente, como um dispositivo complexo de discursos que ora justifica ora é justificado pelas práticas sócio-culturais. Neste sentido, as religiões, na sua dimensão multi- facetada e tentacular, constituem importantes mecanismos de criação e (re)produção de ideias generizadas.
O colóquio Género e Religiões – Perspectivas, Práticas, Teorias e Expressões de Género entre o Religioso e a Religiosidade visa abordar a intersecção entre género e fenómeno religioso a partir de uma perspectiva inter e transdisciplinar, integrando as reflexões e contributos de um conjunto de investigadores/as de diversas áreas do saber (Estudos de Género, História, Arqueologia, Teologia, Antropologia, Filosofia, Estudos Literários, Sociologia, Estudos de Arte e Cultura, etc.), sem quaisquer constrangimentos temáticos, metodológicos, geográficos e/ou cronológicos. Simultaneamente, o conceito de “religião” será aqui mobilizado e evocado de forma muito abrangente, incluindo sistemas de crenças e edifícios teológicos propriamente ditos, mas também formas de religiosidade popular e as ramificações que delas decorrem, bem como as interpretações artísticas e literárias de tudo o que está “para além da realidade material”, com incidência no transcendente. Pretende-se assim que este evento constitua um primeiro momento de reflexão plural, em língua portuguesa e castelhana, de cruzamento dos factores “género” e “religião”, pensando-os em diversos contextos históricos, geográficos, culturais e sociais.
Comissão Organizadora
Guilherme Borges Pires (CHAM)
Isabel Almeida (CHAM)
Isabel Araújo Branco (CHAM)
Organização
CHAM / FCSH/NOVA | UAc
Colaboração
Museu do Aljube – Resistência e Liberdade